A Prefeitura de Juazeiro entregou o Centro Cultural Daniel Walker – Estação Ferroviária de Juazeiro do Norte, nessa quarta-feira, 8. O projeto de restauro foi uma parceria entre a Prefeitura e o Centro Universitário Unileão. O funcionamento será de segunda a sexta-feira, de 8h às 19h.
No ato inaugural, a Prefeitura promoveu uma exposição de carros antigos. Além disso, a partir do próximo dia 16, terá uma exposição de xilogravuras do curador, Chico Bruno.
De acordo com a história do local narrada por Roberto Júnior, coordenador de Documentação e Memória, também historiador da Secretaria de Cultura de Juazeiro, o prédio ficaria localizado nas imediações de onde hoje é a avenida Dr. Floro, desejo das lideranças políticas de Juazeiro da época [década de 20], mas Padre Cícero não concordou com essa visão de construir a estação onde hoje é a avenida, e o equipamento foi alocado no chamado Alto do Seminário à época, um ponto muito distante do centro.
Segundo jornais do período, a estação ficava a 1,5 km da cidade. Isso porque a visão do Padre Cícero de lutar pela causa era em virtude da possibilidade de ocorrer o desenvolvimento de um bairro em torno da estação, e foi o que aconteceu; na década seguinte, após a inauguração da estação, já haviam indústrias operando na localidade.
Os trilhos faziam percurso de Missão Velha direto para Barbalha e em direção ao Crato; não passavam por Juazeiro. Somente a partir de 1921 é que se localiza em mapas a expansão da rede de viação cearense, contemplando os trilhos dentro do município de Juazeiro. A cidade já tinha posição de destaque na região. Porém, a luta árdua de Padre Cícero junto a Floro Bartolomeu, que adquiriu cotas de ações da rede de viação cearense para possibilitar uma voz ativa ao município dentro da companhia (na época ela era pertencente à esfera estadual, mas operada pelo governo federal), foi crucial.
Com a chegada do paraibano Epitácio Pessoa à presidência, tornou-se possível o diálogo mais próximo com a instância federal, e o desvio de rota dos trilhos contemplou a cidade de Juazeiro.
O coordenador de Documentação e Memória, comenta também a respeito da história da estação, afirmando que o Dr. Moreira da Rocha, à época governador do Estado do Ceará, veio para o lançamento da pedra fundamental da estação ferroviária [única placa de equipamento público juazeirense com o nome de Padre Cícero enquanto prefeito]. E relata que na década anterior a de 1920, Juazeiro estava sitiada pelo Estado, o governo de Franco Rabelo, militar e político, pretendia destruir a cidade. Roberto Júnior diz que em um espaço de pouco mais de 10 anos de história, houve uma guinada muito grande em favor da nossa cidade, e reitera, “fruto do trabalho árduo das pessoas que construíram Juazeiro nas suas primeiras décadas de história”, finaliza.
Para Roberto Júnior, a inauguração do Centro Cultural Daniel Walker, é um momento de muita felicidade e muito esperado. Ele cita que quem conhece seu trabalho de 10 anos, sabe que enquanto historiador, ele já falava sobre essa problemática da Estação Ferroviária. Comenta que “apesar de as estações serem bens valoradas como patrimônio histórico pelo IPHAN a nível nacional, a maioria das estações está em estado de abandono pelo Brasil afora e Juazeiro está indo na contramão, revitalizando esse patrimônio que tem uma relevância arquitetônica ímpar e que também tem um significado histórico muito grande”, encerra.
O Prefeito Glêdson Bezerra expressa alegria em inaugurar o prédio e comenta que quem passava pela estação ferroviária de Juazeiro e conhecia a história sentia falta de um local tão importante e histórico, inaugurado pelo Padre Cícero, estar em tais condições: abandonado e sucateado.
O gestor também frisou que mesmo as pessoas não tendo conhecimento acerca da história do prédio, sabem da importância cultural e histórica dele, e guardam memórias afetivas. Glêdson comenta sobre a satisfação de entregar a população juazeirense um prédio tão bonito, que estava abandonado em uma área central da cidade. Ele diz que é “uma sensação muito positiva, de dever cumprido de poder entregar esse prédio que vai mesclar o novo com o antigo, preservando o paisagismo e o máximo possível da sua coloração original, além do piso que se manteve próximo do implantado no ano de fundação do equipamento”. Também frisou sobre o ambiente restaurado ser climatizado e com banheiros com acessibilidade, com o objetivo de preservar a história, mas dentro das normas exigidas para oferecer conforto à população e a quem visita.
O Prefeito destaca que “o Centro Cultural gerará emprego, renda e será um ponto turístico, além de um ambiente acolhedor, possibilitando o encontro de famílias, o desenvolvimento do sentimento de pertencimento à cidade e o respeito aos nossos próprios, nossa história e a tudo que é determinante para que uma sociedade se desenvolva com o respeito aos equipamentos públicos e à cidade”.
Junú Freire, artista e morador do bairro Franciscanos diz que “você falar de cultura é falar de história, um dos elementos fundamentais pra gente, quando a gente vê por exemplo a minha história, a história da minha família, passa por essa construção da estrada de ferro, meu bisavô, um negro do Triunfo – Pernambuco, veio pra cá na estrada de ferro trabalhar e aqui ficou. Então eu fico emocionado, fico muito feliz com a restauração desse prédio e espero que a Secretaria de Cultura, de Educação e as outras instituições que trabalham com arte e cultura aqui, tragam programações pra cá e esse cuidado e esse carinho para manter.”
Ele também comenta que vários outros espaços já trazem a programação comercial de voz e violão, “mas a programação do artista que vai tocar e tem o seu próprio trabalho, só vai ser garantida se esses órgãos tiverem essa atenção, porque senão vira mais um espaço que vai estar reproduzindo uma programação artística que nem sempre é cultural, pode ser uma programação de entretenimento que já tem em vários outros lugares”, reitera Junú.
Deborah Macêdo, natural de Aurora, mas moradora de Juazeiro há 18 anos, comenta que gostou da inauguração do prédio e que há muito tempo essa estação estava fechada. “A gente mora aqui por trás do SAME [Serviço de Atendimento Médico Especializado], e às vezes a gente tinha até medo de passar aqui por conta da escuridão e agora depois dessa reforma vai ficar muito bom pra gente que mora aqui nos arredores, é um ponto turístico da cidade”.
A popular também falou sobre a espera de que a cafeteria do Centro Cultural tenha preços acessíveis para que todas as pessoas possam frequentar e usufruir do que tem a oferecer. Ela reforça que “é um ponto turístico que a gente pode vir final de semana e finalzinho da tarde com os filhos da gente pra passear, um lazer”.
Ascom