Pequi: a fruta que sustenta famílias e preserva tradições na Chapada do Araripe

Entre janeiro e abril, o cenário da Chapada do Araripe, no Ceará, se transforma. O período marca a safra do pequi, um fruto de aroma inconfundível que movimenta a economia local e sustenta milhares de famílias. Da floresta às margens da estrada, ele é colhido, transportado e vendido, garantindo o sustento de agricultores, assentados e comunidades quilombolas.

O trabalho começa cedo. Ainda de madrugada, grupos de catadores entram na mata em busca dos frutos caídos no chão. “A gente madruga porque quem chega primeiro sempre leva mais”, comenta um deles. Os sacos, pesados e cheios, são transportados nos ombros ou em motocicletas, cruzando trilhas estreitas até os pontos de venda improvisados ao longo das rodovias.

O pequi não é apenas uma fonte de renda – é um elo entre gerações. Muitos aprendem desde crianças a reconhecer os sinais da mata, identificar as árvores mais produtivas e lidar com os espinhos escondidos na polpa do fruto. “Desde pequeno eu vejo minha família vivendo disso. Quando chega a época, a gente se muda para cá e fica até a safra acabar”, relata um trabalhador.

Apesar da importância econômica, os desafios são constantes. O excesso de oferta faz o preço despencar no auge da colheita, tornando difícil acumular recursos para o restante do ano. Para contornar esse problema, algumas famílias têm investido em formas alternativas de comercialização. O óleo de pequi, por exemplo, tem grande valor medicinal e pode ser vendido fora da safra. Outra estratégia tem sido o congelamento dos frutos, permitindo sua venda por preços mais altos nos meses seguintes. “Com o freezer, eu consigo segurar o pequi até maio ou junho e vender por um valor melhor”, explica uma agricultora.

Mas a expansão da atividade também traz preocupações. Acampamentos temporários, antes improvisados, estão se tornando moradias fixas dentro da Floresta Nacional, o que pode comprometer o equilíbrio ambiental da região. A falta de infraestrutura adequada para essas comunidades expõe os moradores a dificuldades como a escassez de água potável e a ausência de serviços básicos. “A gente tenta se organizar, mas sem energia e sem estrutura, é difícil”, desabafa um trabalhador.

Mesmo com os desafios, o pequi segue sendo um símbolo de resistência e identidade para os povos da Chapada do Araripe. Além de alimentar famílias, ele fortalece laços culturais e mantém viva uma tradição secular. Enquanto houver pequi, haverá história para contar.

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