Um estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) alerta sobre os prováveis impactos das mudanças climáticas nos casos de arboviroses, como dengue, zika e chikungunya, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.
A análise realizada pelo pesquisador Antonio Carlos da Silva Oscar Júnior, do Instituto de Geografia (Igeog), aponta que o aumento das temperaturas e chuvas cada vez mais intensas podem facilitar a reprodução do mosquito.
“O que observamos é um potencial de expansão territorial da área de atuação do mosquito, em que novas áreas tornam-se endêmicas, o que aumenta a quantidade de pessoas expostas a contrair dengue, população essa que antes não tinha contato com o vírus e que, portanto, não tem anticorpos necessários para enfrentamento da doença”, destaca Antonio Carlos.
De acordo com o pesquisador da UERJ, as temperaturas mais elevadas podem facilitar o ciclo de desenvolvimento do mosquito, em diferentes regiões do Rio de Janeiro, do Brasil e do Mundo.
Ele cita, por exemplo, o sul do país, como os estados do Rio Grande do Sul e Paraná, além da Califórnia, nos Estados Unidos, onde já foi comprovada a transmissão local do vírus da dengue.
Expansão
O mosquito Aedes aegypti é normalmente encontrado em regiões tropicais e subtropicais da América, Ásia e África. No entanto, nos últimos anos, tem se observado o surgimento de casos também em áreas temperadas, como a Europa.
Em 2023, França, Itália e Espanha registraram 128 casos de dengue, segundo informações Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, por sua sigla em inglês). Só no território francês foram registrados apenas quatro casos da doença nos últimos 10 anos, o que representa a expansão da dengue na Europa.
“Existem condições ambientais necessárias para o desenvolvimento do vetor, o mosquito Aedes aegypti, entre elas estão a disponibilidade de umidade no ambiente e faixas ótimas de temperatura”, pontua Antonio Carlos.
Problema nacional
O estudo Mudança climática e risco de arboviroses no estado do Rio de Janeiro se restringe, inicialmente, apenas ao território carioca, mas o pesquisador ressalta que os dados obtidos serão importantes para implementação de um observatório da dengue na UERJ. Dessa forma, será possível analisar o desenvolvimento do mosquito em outras regiões.
“Todo nosso estudo é baseado nas características e necessidades ambientais atuais do mosquito. No entanto, ele poderá desenvolver adaptação biológica às maiores faixas de temperaturas, que atualmente limitam sua atuação, com isso podemos estar falando de uma ampliação ainda maior da área endêmica do Aedes aegypti e, consequentemente, da circulação do vírus da dengue”, alerta Antonio Carlos.
O pesquisador completa que a transmissão já pode ser feita entre mosquitos. “Ou seja, já há a possibilidade do mosquito contrair o vírus da Dengue sem ser pelo contato com o sangue humano contaminado e isso amplia exponencialmente a possibilidade de transmissão da doença.”
Mais de 1 milhão de casos de dengue
De acordo com o Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde, o Brasil registrou, até a última sexta-feira (8/3), 1.342.086 casos prováveis e 363 mortes pela doença.
O Distrito Federal é a unidade da federação com a maior incidência da doença, com 4.343,1 por 100 mil habitantes. Logo depois aparecem Minas Gerais (2.260,2), Espírito Santo (1.270,5) e Paraná (1.120,7).
Ministra concorda
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou, no fim de fevereiro, que as mudanças climáticas influenciam o aumento de casos de dengue no país. “A questão da mudança climática é um fator importantíssimo na proliferação do Aedes aegypti como vetor na transmissão da doença.”
Especialistas e o Ministério da Saúde enfatizam que os focos de dengue estão, em sua maioria, nas residências em águas paradas acumuladas em garrafas, sacos de lixo e vasos de plantas.
“75% dos focos de mosquito estão dentro das residências, e por mais que isso tenha uma forte relação com a falta de acesso ao saneamento, é importante destacar o papel das pessoas em todo esse processo. Então é necessário uma ampla conscientização da população sobre os impactos das mudanças climáticas na sua escala de vida”, explica Antonio Carlos.
Ações do cotidiano podem ajudar a evitar a proliferação do Aedes aegypti, como descartar copos plásticos, tampas de refrigerante e sacos abertos que possam acumular água. Além de tampar os ralos e manter sempre limpa a vasilha de água de animais e plantas.
Fonte: Metrópoles
Foto: Soumyabrata Roy/NurPhoto via Getty Images