Gasolina e botijão de gás estão mais caros a partir desta terça-feira

Pela primeira vez no ano, a Petrobras decidiu reajustar o preço da gasolina e do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) — o popular “gás de cozinha” — comercializado para as distribuidoras. Ontem, a companhia emitiu uma nota que informa os novos valores que entram em vigor a partir de hoje. O litro da gasolina — antes vendido a R$2,81 — aumenta R$ 0,20, e passa a valer para R$ 3,01. Enquanto isso, o preço do botijão de gás tradicional, de 13kg, foi reajustado R$ 3,10 (de R$ 31,60 para R$ 34,70). A medida não vale para o diesel.

Com o aumento para as distribuidoras, os valores devem ser repassados para o consumidor final. Uma estimativa realizada pela Warren Investimentos calcula que, com o reajuste de R$ 0,20, o preço da gasolina na bomba de combustível deve subir R$ 0,15. No final de junho, um levantamento realizado pelo Ticket Log apontou que o preço médio da gasolina vendida nos postos de abastecimento era de R$ 6,02.

A carestia dos combustíveis gera afiliação entre os consumidores. Para o assistente comercial Deividi Caetano, de 21 anos, o deslocamento para o serviço gera um prejuízo cada vez mais intenso para quem trabalha totalmente presencial, como é o caso do brasiliense. “No final, a gente acaba gastando muito mais do que até mesmo ganha como salário, porque a gente está gastando em combustível”, conta. Já para o motorista de aplicativo, Gabo Rogério, de 38 anos, o preço médio atual da gasolina no país, que já passa de R$ 6, é um “absurdo”. “Para a gente que está no dia a dia, na linha de frente, está ficando bastante complicado”, relata o motorista.

Segundo o presidente do Sindicombustíveis-DF, Paulo Tavares, somente hoje, indo aos postos, vai ser possível saber quanto vai ficar na bomba. “Precisamos aguardar se as distribuidoras vão repassar o total de R$ 0,15, ou mais, ou menos, visto que já foram somados R$ 0,05 nos últimos 15 dias”, analisa.

O valor que o presidente do sindicato menciona refere-se ao aumento no preço do etanol no mercado nacional, que acompanha a valorização da cana-de-açúcar, matéria-prima utilizada para fabricar o combustível. Isso ocorre porque a gasolina vendida nos postos (também chamada de gasolina C) é composta por 73% de gasolina A e por 27% de etanol anidro.

O último aumento da gasolina foi em outubro de 2023. Desde a mudança da política de preços da estatal, adotada em maio no ano passado e que substituiu o Preço de Paridade de Importação (PPI), a companhia já reduziu em R$ 0,17 por litro o valor de venda da gasolina para as distribuidoras.

Inflação maior

De acordo com o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), o reajuste do combustível é causado, entre outros fatores, pela escalada do dólar no país, que subiu 15% entre os dias 1º de fevereiro e 1º de julho deste ano. Além disso, o instituto atribui a mudança à recente elevação dos preços do petróleo tipo Brent no mercado internacional, que atingiu US$ 85,75/barril.

Com a revisão dos preços pela estatal, diversos analistas econômicos aumentaram a previsão para a inflação neste ano. O banco BTG Pactual elevou de 4,2% para 4,4% a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2024. Já a Warren Investimentos, revisou de 4,1% para 4,28% a estimativa para a inflação oficial no mesmo período.

Na avaliação do especialista Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, os analistas já devem começar a projetar um cenário de inflação acima do teto da meta, de 4,5% ao ano, para 2024, caso os valores mais altos da gasolina também se revertam na bomba. “O aumento dos preços da gasolina e do gás de cozinha pode causar um efeito cascata em outros setores da economia. Por exemplo, haverá o aumento do custo de transporte e consequentemente elevar o preços dos alimentos e de outros bens que dependem da rodovia”, exemplifica Eyng.

O mercado reagiu bem à decisão da Petrobras. As ações preferenciais da petrolífera (PETR4) subiram 2,45% e atingiram R$ 38,44, no pregão de ontem. O economista Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações, afirma que dois fatores ajudam a explicar o aumento da confiança dos investidores com a empresa, após a decisão anunciada no início desta semana.

O primeiro fator, na visão do especialista, é que a decisão da estatal de aumentar os preços em um contexto inflacionário e de alta volatilidade no mercado internacional de petróleo sinaliza uma “postura firme” da gestão da empresa em relação à sua política de preços, o que tende a reduzir a percepção de risco em relação à intervenção governamental.

Embora considerado insuficiente para zerar a defasagem atual em relação aos preços internacionais, o aumento é visto como positivo para melhorar as margens de lucro da companhia, o que pode resultar em uma maior distribuição de dividendos no futuro, segundo avalia Murad.

Fonte: Correio Braziliense

Foto: Pixabay

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